A criança está chata para comer?
Dicas
06 de Março de 2021
Nos 1000 dias do bebê que contempla também a introdução alimentar, chamamos de janela de oportunidades. Pais e cuidadores exercem papel importante proporcionando além de alimentos nutritivos, atitudes responsivas e gentis no que se refere ao comportamento alimentar da criança. Ambientes tranquilos, família à mesa, sem discussões no ambiente enquanto a criança se alimenta, mantendo a harmonia e permitindo que a criança explore e reconheça os alimentos e os momentos das refeições como algo positivo.
A alimentação sólida é uma das grandes novidades para o bebê, todas as suas habilidades e sentidos estão sendo estimuladas. A criança que teve uma introdução alimentar adequada aprende gostar de comer e tem prazer em receber novos alimentos. Ao passo que, alguns pais perguntam, “será que não está comendo demais?” “será que é gula” “ele fica tão feliz quando está comendo” “dá gosto de ver”. Todos esperam que seja sempre assim...
Passado esse período, por volta dos 3, 4, 5 anos, as crianças começam a não demostrar tanto interesse pela comida. Nessa fase já estão brincando com mais habilidade, desenvolvendo mais a musculatura com brincadeiras que exigem mais o corpo, já estão tendo contato com eletrônicos ou brinquedos que exigem mais atenção. A comida deixou de ser a grande novidade, isso desestimula pais e cuidadores, entendendo muitas vezes que a criança “É CHATA PRA COMER”. No entanto é natural, inclusive o ambiente das refeições pode não estar sendo aquele com a atenção dos pais voltada para ela, isso é um ponto a ser pensado.
Além disso, tudo pode estar muito repetitivo e monótono. A cadeira, a mesa, as mesmas comidas, as mesmas cobranças. “filho come mais” “filho como estás comento pouco” “filho só vai sair da cadeira quando terminar”. Nessa fase é necessário abrir mãos das regras e flexibilizar com limites.
Ou seja, a comida saudável é uma prioridade, não vale a pensa abrir mão e expor a criança a alimentos industrializados para que tenha interesse em comer, mas é possível fazer os alimentos básicos de forma diferente. Ex: alternar o tradicional arroz e feijão, por bolinho de arroz com vegetais, hamburguer de lentilha substituindo o feijão, hamburguer de feijão.
Purê de abóbora ao invés de abóbora cozida. Panquecas ou quinoa ao invés de batata ou arroz.
Trocar a batata cozida por batata rústica. Croquetes de carne de panela assados, legumes refogadinhos com temperos, azeite e sementes, suflês de vegetais. A lista é imensa, mas a regra é usar a imaginação.
Outra estratégia é trocar o ambiente e utensílios oportunamente. Colocar os alimentos em um bowl, de preferência alimentos que não são ofertados com muita frequência, como se fosse um lanchinho ou um snack. Isso faz a atenção da criança ser voltada novamente para os alimentos, exploração de algo novo e sem a rigidez das regras que foram estabelecidas anteriormente.
Deixar a criança fazer uma parte da refeição em um momento de brincadeira, exemplo: Na sala com um bowl que contenha vegetais, ou aquilo que você percebe que está faltando na dieta, pode ser um bowl apenas com lentilha ou feijão. Depois convidá-lo para estar à mesa, pois a criança nessa fase come com pressa para voltar ao brinquedo ou alguma atividade que está chamando a sua atenção e quando a criança se depara com um prato cheio de comida ela pode interpretar como: “preciso dar conta desse prato cheio, vou usar estratégias para sair daqui” “tem adultos me controlando, vou comer um pouquinho e me livrar desse momento de cobrança”.
É algo que remete a obrigação, além de ser natural a criança testar formas de buscar autonomia e controle das situações. Portanto, flexibilizar sem abrir mão da qualidade, faz parte e pode ser feito de forma oportuna, além disso, usar a criatividade nas preparações se colocando sempre no lugar da criança, que está descobrindo o mundo de possibilidades, todas já exploradas pelos pais, mas que por ora não agem de forma genuína se colocando na fase em que a criança se encontra.
Texto: Nutricionista Pamela Vitória